sábado, 29 de junho de 2013

A FAMÍLIA E OS DESAFIOS DO MERCADO DE TRABALHO

 

A FAMÍLIA E

OS DESAFIOS

DO MERCADO

DE TRABALHO

 

- O "Dicionário Crítico sobre Trabalho e Tecnologia" diz que: "O trabalho na contemporaneidade ou a sua ausência para todos aqueles privados da possibilidade de inserção produtiva corrói o caráter, afeta a estrutura familiar e a saúde mental dos indivíduos". (1)

- Estabilidade no emprego, sucesso profissional e um padrão de vida de classe média é o sonho e a busca da maioria das pessoas visionárias, seja homem ou mulher.

- Como pai de três filhos que estão se preparando para competir no mercado de trabalho, percebo que, nos dias atuais, não basta ter um diploma universitário, é necessário uma especialização que qualifique o jovem como um profissional diferenciado e para entrar na "fila de espera", aguardando uma oportunidade numa grande empresa onde buscará crescer na direção da estabilidade profissional e financeira, salvo algumas exceções de pessoas que são beneficiadas por "padrinhos", escolas que já tenham convênios com empresas etc.

- Todo pai de família precisa ter uma estabilidade profissional, um emprego seguro, um salário que seja suficiente para manter a casa com dignidade. Sem esta base, qualquer relacionamento de casal ou de família pode sofrer um estresse causado pela crise financeira do por causa da insuficiência de renda.

- "Você está sendo hoje despedido da empresa...". Esta informação já me fez chorar um dia nos ombros da minha esposa.

- Sabemos que as pessoas que estão bem empregadas, não pensam nessa possibilidade, pelo contrário, elas querem crescer dentro da empresa e fortalecer o vínculo, fazendo sempre o seu melhor. Porém, mesmo aqueles que já alcançaram o que a maioria sonha, não podem negar que todos nós estamos sujeitos a experimentarmos imprevistos na caminhada e sofrer com o desemprego e a mudança no padrão de vida.

- Em um artigo sobre "O Desemprego estrutural, o indivíduo e a família", o escritor Mauro Monteclaro diz que há muitos indicadores de que o desemprego esteja fora de controle no  mundo todo e a causa principal é a disseminação das novas tecnologias de informação e de telecomunicações, combinadas às novas técnicas gerenciais, cujo objetivo vem sendo,  principalmente, a reestruturação produtiva.  Esse novo tipo de desemprego independe do nível da atividade econômica e é imune a políticas de desenvolvimento. Trata-se de um problema que tende a agravar-se, principalmente devido às abordagens convencionais com que se tenta enfrentá-lo. Alguns alegam a necessidade de maiores investimentos em educação. Mas um número cada vez maior de desempregados tem formação universitária e alguns até doutoramento. Outros insistem em mais investimentos produtivos. O resultado são novas empresas de alta tecnologia que geram muitos lucros, mas pouquíssimos empregos. Esse é um dos grandes desafios para a família neste tempo pós-moderno.

- Infelizmente, as empresas, no Brasil, além do "desemprego tecnológico", no qual os homens são substituídos pelas máquinas, privilegiam os mais jovens e recém formados, dispensando, assim, os mais velhos com o objetivo de pagar menos e aumentar o lucro, não se importando se estes são ou não os mantenedores da família.

- A afirmação do "Dicionário Critico do Trabalho e Tecnologia", que o desemprego pode corroer o caráter, afetar a estrutura familiar e a saúde mental dos indivíduos, é uma grande verdade. Isso porque, a saúde do relacionamento familiar depende do equilíbrio financeiro proporcionado pela estabilidade profissional.

- Lembro-me de um fato que sensibilizou a todos os que estavam presentes em uma certa reunião. Era um sábado pela manhã, eu ministrava uma palestra em um hotel para um grupo de casais. No intervalo, percebi que um casal estava muito chateado e o marido chorava compulsivamente. Quando procurei saber o que estava ocorrendo, para oferecer ajuda, fui informado de que aquele homem tinha acabado de receber um telefonema da empresa, dando-lhe ciência de que estava desligado do quadro de funcionários. Há dez anos ele trabalhava naquela empresa, tinha um excelente salário que lhe proporcionava um alto padrão de vida, seus filhos estudavam na melhor escola da cidade, a família só usava roupas de marca, freqüentava os melhores restaurantes, tirava férias regularmente, indo para os EUA, eles mantinham um status de classe média. De repente, ele se viu desempregado e, na incerteza do amanhã, a família teve que se reorganizar, mudando completamente o seu padrão de vida.

- Toda mudança financeira forçada por uma situação imposta por um acidente de percurso na vida sempre gera crise no casamento e na família. Ninguém gosta de diminuir seu padrão de vida, perder o status, deixar uma escola particular para estudar em uma pública, usar roupas mais simples, ter um carro mais barato, deixar de tirar férias em outro país, morar em uma casa menor, acomodar-se a uma vida modesta. O ser humano é orgulhoso por natureza, por isso não gosta de descer os degraus da escada da humildade.

- O desemprego é um risco que todas as famílias estão sujeitas, seja a de um simples operário que ganhe um pequeno salário ou de um executivo que tenha participação no lucro da empresa, o que lhe garante uma vida de classe média alta.

- A pergunta é: o que fazer diante deste desafio socioeconômico que perturba e mexe com a estrutura familiar?

- Como superar as adversidades desse tempo onde a competição no mercado de trabalho muitas vezes é desleal?

- O que fazer quando o desemprego bate em nossa porta?

Quero deixar algumas dicas que podem ajudar:

Como superar em tempos difíceis:

1. A força de uma família em tempo de crise está na sua unidade.

- Quando a família está edificada sobre a "rocha", que são os princípios da Palavra de Deus, ela passa pelos temporais da vida, mas não "cai".

- Foi Jesus quem disse: "Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha" (Mt 7.24, 25 - g.n.).

- Ele também alertou aqueles que não constroem seu projeto de vida de família sobre a Palavra dizendo: "E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compara-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda" (Mt 7.26, 27).

- O que Jesus estava dizendo é que todos, indistintamente, podem passar por momentos difíceis, porém, se a Palavra estiver sendo praticada, a família vai triunfar, superar, vencer o tempo da crise financeira.

2. Faça uma leitura positiva daquilo que acontece de "negativo" em sua vida.

- Há uma frase muito conhecida que diz: "É na crise que agente cresce!" Precisamos aprender a enxergar "dez vantagens" na "desvantagem". Para o chinês, crise pode significar duas coisas, "perigo" ou"oportunidade".

- Quando lemos sobre a vida de José no Egito, aprendemos que não existe terreno estéril para quem confia em Deus e tem visão de águia (Gn 39.1-23). Este jovem filho de Jacó foi plantado em uma terra de escravos, e lá se tornou príncipe.

- Qual era o segredo de José? Sua confiança no Eterno e a capacidade de sonhar sonhos impossíveis.

- A adversidade é um terreno fértil para germinar a semente da criatividade.

- O desemprego pode despertar e desenvolver a capacidade de enxergar oportunidades que antes não eram percebidas.

- Quando os pais têm maturidade para lidar com o desemprego com equilíbrio e otimismo, os filhos se sentem seguros e a família se torna mais forte.

3. Tenha um fundo de reserva.

- O pai de família não pode administrar com base apenas no presente. Nossa fé precisa ser inteligente.

- Toda pessoa que administra seus recursos financeiros com sabedoria, se preocupa com o futuro, fazendo um fundo de reserva, porque este é um princípio básico de economia doméstica.

- As incertezas do amanhã em relação ao mercado de trabalho exigem que o trabalhador faça uma economia pensando na segurança da família no futuro.

- Infelizmente, a maioria das pessoas não tem o hábito de planejar, por isso, quando acontece um acidente de percurso, elas estão desprotegidas e pagam caro pela sua negligência.

- Planejar significa pensar antecipadamente. As pessoas que planejam vivem com mais segurança em relação ao futuro.

4. Os pais devem motivar os filhos a se preparar para o mercado de trabalho.

- O fato de haver muitas pessoas formadas e desempregadas no mercado de trabalho, não significa que os nossos devam abandonar a escola menosprezando o valor de um diploma universitário.

- Se o mercado é competitivo e disputado para os que cursaram uma faculdade, quanto mais para os que não têm nenhuma formação.

- A verdade é que as pessoas melhor preparadas podem se beneficiar das melhores oportunidades no mercado de trabalho.

- A pessoa que hoje tem um ou mais cursos universitários, fez uma especialização e fala inglês, espanhol ou chinês, podendo aproveitar as melhores oportunidades do mercado.

- Um dia desses estava conversando com um jovem sobre oportunidades de trabalho. Ele é um conhecedor profundo na área de desenvolvimento de sistemas, porém não consegue uma colocação em uma grande empresa. Por quê? Perguntei para ele. Ele me respondeu: "Já perdi muitas oportunidades, porque me falta um diploma universitário". Os pais devem incentivar seus filhos a estudar.

5. Incentive os filhos a conquistar sua independência e sair de casa no tempo certo.

- Segundo Sérgio Amaral Costa, 48 anos, especialista em recursos humanos e professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo a partir dos anos 90, onde o jovem sentiu a necessidade de aumentar o tempo de estudo para competir no mercado de trabalho, passou a ter menos estabilidade no emprego e a demorar mais para conseguir boa remuneração. Aí foi ficando, ficando, e se acostumou, acrescenta.: "Até no meio acadêmico a gente nota que muitos jovens adiam o casamento porque isso significa ter de sair da casa dos pais".(2) Isso é um contraste e tanto com as gerações que iniciaram sua vida profissional até os anos 1970. Aos 18 anos, quem não estava na universidade já estava trabalhando. Mesmo no meio universitário, quem não trabalhava era uma exceção. Eram os alunos de universidades públicas ou o pequeno grupo dos realmente privilegiados. O mais importante a destacar é que, mesmo entre os que estudavam, ficar desempregado era uma situação muito embaraçosa. Depender dos pais causava uma sensação  de impotência e a perda da auto-estima era inevitável. Mas o mais grave dos processos decorrentes do desemprego tecnológico é o retorno da família como "meio de vida" e condição de sobrevivência. Por mais que alguns conservadores tentem ver nisso algum benefício, a verdade é que se trata de um flagrante retrocesso.

Os pais devem orientar os filhos, para que estes assumam responsabilidades e cresçam, aprendam a andar financeiramente com as próprias pernas. Só assim eles poderão construir alguma coisa relevante na vida.

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(1) CATTANI, Antonio David. Dicionário Crítico sobre Trabalho e Tecnologia. Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: UFRGS, 2002. p. 11.

(2) BRASIL, Sandra. "Acomodados no ninho". Veja. 24.05.2006. p. 68.

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Sobre o Autor

Josué Gonçalves é terapeuta familiar, pastor e presidente do Min. Família Debaixo da Graça em Bragança Pta, SP, onde mora com a esposa Rousemary, e os três filhos Letícia, Douglas e Pedro. O pastor Josué é membro da CGADB - Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. É conferencista internacional, tendo ministrado em todo o Brasil, e em países como Japão, EUA, Canadá, Inglaterra, Luxemburgo, Itália, Alemanha, Irlanda do Sul e Portugal. Possui várias obras publicadas na área familiar e de liderança

 

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